Nosso Sextou Amazônico de hoje sai um pouco da floresta para mostrar um encontro…
Nosso Sextou Amazônico de hoje sai um pouco da floresta para mostrar um encontro especial no Rio de Janeiro em meio ao Carnaval.
Davi Kopenawa, o líder e xamã Yanomami, e o escritor e filósofo Ailton Krenak haviam participado no mesmo carro alegórico do desfile do Salgueiro na madrugada do dia 12 de fevereiro. Mas Davi estava ansioso por um encontro mais calmo com Ailton – eles se conhecem desde as lutas que levaram ao reconhecimento dos direitos territoriais dos povos originários na Constituição de 1988.
Os dois se reuniram de novo na tarde do dia 13, quando o motorista de uma van contratada pela escola de samba levou os treze Yanomami que vieram da Amazônia a um mirante no Aterro do Flamengo, de frente para a Baía de Guanabara. O mirante, com vista para o Pão de Açúcar, fica ao lado de um monumento a Estácio de Sá, o militar morto em 1567 por uma flecha envenenada atribuída a Indígenas que viviam no litoral do Rio de Janeiro e se aliaram aos franceses contra os portugueses.
Depois do encontro no Aterro, Ailton e Davi foram jantar juntos. Mais tarde, Davi comentou, rindo, que os Indígenas chamam a Baía de Guanabara, poluída, de “lago fedorento”.
A passagem pelo mirante foi a única oportunidade para os quatro Yanomami que vieram da porção do território que fica no estado do Amazonas — os demais nove vieram de Roraima — conhecer um ponto turístico do Rio. Os quatro, entre eles Carla Lins Yanomami, presidenta da associação de mulheres Yanomami, seguiram para o aeroporto para iniciar a longa viagem de volta à região do Alto Rio Negro, e não estarão no desfile das escolas campeãs, amanhã, do qual o Salgueiro fará parte.
Enquanto bebiam água de coco durante o passeio, Davi Kopenawa foi reconhecido pelo vendedor Emir. “Esse não é o líder da Amazônia que desfilou no Salgueiro?”
Se o título de melhor escola não veio, o desfile que mostrou a dor e a beleza de ser Yanomami ajudou a levar os rostos indígenas mais longe.
Fotos: @lelabeltrao/SUMAÚMA
Texto: Claudia Antunes (@claudiapantunes)