A criança Yanomami já tinha vivido 1.095 dias, mas pesava o mesmo que um bebê qu…


A criança Yanomami já tinha vivido 1.095 dias, mas pesava o mesmo que um bebê que acabara de nascer. Três anos e 3,6 quilos. O número traduz o que uma série de fotografias recentes recebidas por SUMAÚMA mostram: corpos de crianças e velhos, com peles que recobrem apenas os ossos, tão fragilizados que mal parecem se equilibrar. Costelas que parecem perfurar os corpos minúsculos contrastam com barrigas enormes, povoadas por vermes. Dados obtidos por SUMAÚMA apontam que, nos 4 anos de governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), 570 crianças com menos de 5 anos morreram no território Yanomami pelo que as estatísticas chamam de “mortes evitáveis”. Isso significa que 570 pequenos indígenas poderiam estar correndo, rindo e inventando brincadeiras, neste momento, se houvesse atendimento adequado de saúde ou ações de prevenção. Não houve. O número oficial já é 29% maior do que nos 4 anos anteriores. Como o território sofreu um apagão estatístico durante o governo de extrema direita, é provável que a realidade seja ainda mais aterradora. Este é o legado de Bolsonaro.

As imagens desta reportagem foram feitas por indígenas e profissionais de saúde que conseguiram vencer a barreira do garimpo criminoso e alcançaram a Terra Indígena Yanomami nos últimos meses. Para publicá-las, SUMAÚMA pediu autorização para lideranças da etnia. Elas só aceitaram a divulgação das fotografias porque estão desesperadas. Em uma delas, foi a própria liderança que pediu que uma foto fosse tirada para ser levada ao mundo.

Desde o início desta semana, uma equipe formada pelo Ministério da Saúde visita as regiões mais afetadas para montar um plano de ação e tentar evitar mais mortes. Uma sala de situação, como a montada em momentos de guerra – ou durante crises como a da covid-19 – funcionará para assessorar as equipes de saúde. Eles também deverão avaliar em que medida os dados que constam no sistema correspondem à realidade. O desafio de reconstrução do sistema de saúde, entretanto, não será fácil. No território onde o crime atuou livremente nos últimos anos, as estruturas foram destruídas.

Leia a reportagem completa de Ana Maria Machado, Eliane Brum e Talita Bedinelli no link da bio.



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